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Anemia por Deficiência de Ferro: Causas, Sintomas e Tratamento




    Anemia por Deficiência de Ferro

    Português Brasileiro

    1. Introdução

    A anemia por deficiência de ferro é a anemia mais comum em todas as faixas etárias, devendo ser considerada como uma doença e não apenas como um sinal. É um agravante para a saúde e para o desenvolvimento de todos os portadores, pois está associada a pior qualidade de vida e pior prognóstico para doenças em geral.

    No mundo, a anemia por deficiência de ferro é considerada a carência nutricional de maior magnitude, destacando-se a elevada prevalência em todos os segmentos sociais, acometendo principalmente crianças menores de dois anos de idade e gestantes.

    No Brasil, a anemia por deficiência de ferro é considerada um grave problema de saúde pública devido às altas prevalências e da estreita relação com o desenvolvimento das crianças. Dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde mostram que, no Brasil, a prevalência entre menores de cinco anos é de 20,9%, sendo 24,1% em crianças menores de dois anos. Estudos realizados no País apontam que a mediana da prevalência de anemia em crianças menores de cinco anos é de 50%, chegando a 52% naquelas que frequentavam escolas/creches e 60,2% nas que frequentavam Unidades Básicas de Saúde.

    A anemia é definida por valores de hemoglobina no sangue abaixo dos limites de normalidade para idade e gênero. A sua principal causa é a deficiência de ferro, que acomete 20 a 30% da população mundial, sendo a alteração hematológica mais frequente. A anemia por deficiência de ferro, por sua vez, é decorrente da diminuição do número de hemácias ou da concentração da hemoglobina circulante, menor capacidade de transporte de oxigênio e diminuição da oxigenação tecidual. Estudos epidemiológicos mostram que a definição correta e a terapia específica diminuem consideravelmente a morbidade e a mortalidade a ela relacionadas.

    A deficiência de ferro, sobretudo quando em conjunto com anemia por deficiência de ferro, causa impacto negativo nas diferentes fases da vida. As principais complicações maternas associadas à deficiência de ferro são trabalho de parto prematuro, pré-eclâmpsia, abortamento espontâneo, disfunção cognitiva, redução do desempenho físico, instabilidade emocional, depressão no puerpério, insuficiência cardíaca e óbito.

    No feto, ocorrem repercussões graves, como retardo de crescimento ou óbito intrauterino, podendo predispor à prematuridade e ao baixo peso ao nascer. Nas crianças, podem ocorrer infecções frequentes, irritabilidade, apatia, anorexia, falta de atenção, dificuldades de aprendizagem e baixo rendimento cognitivo/intelectual, por atraso do desenvolvimento neurológico e psicomotor fetal, cujo comprometimento pode ser irreversível. No adulto, a presença de anemia é fator de risco isolado para outras comorbidades e para o aumento de complicações cirúrgicas proporcionais ao grau de anemia, independentemente de transfusões ou administração de ferro parenteral antes do procedimento. No idoso, a presença de anemia causa mais hospitalizações, declínio cognitivo, quedas e fraturas.

    A presença de deficiência de ferro e anemia por deficiência de ferro está associada a vários outros sinais e sintomas como cansaço, cefaleia, irritabilidade, lentidão de raciocínio, dificuldade de concentração, sonolência, tontura, queda de cabelo, unhas fracas e quebradiças, alotriofagia (desejo de comer gelo, argila, macarrão cru, entre outros), menor rendimento laboral, menor tolerância às atividades físicas, taquicardia, sopro sistólico de ejeção, edema, dispneia e ortopneia.

    Em geral, frequências mais elevadas de deficiência de ferro são observadas em crianças e mulheres de países em desenvolvimento, sobretudo naqueles com condições socioeconômicas mais desfavoráveis. Os grupos populacionais com maior risco de desenvolverem deficiência de ferro são: crianças nascidas de mães com deficiência de ferro ou com anemia por deficiência de ferro, mulheres com múltiplas gestações, doadoras de sangue e mulheres em dietas vegetarianas.

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou dados de 93 países entre 1993 e 2005, constatando que 24,8% das pessoas apresentavam o diagnóstico de anemia, principalmente em populações africanas e asiáticas. Essa prevalência difere de acordo com a idade, sendo de 47,4% em pré-escolares e de 23,9% em idosos.

    Embora a carência de ferro seja a causa mais comum de anemia em todas as idades, a anemia por deficiência de ferro é mais prevalente em crianças menores de 7 anos, mulheres em idade fértil e grávidas. Na gestante adolescente, as consequências podem ser devastadoras tanto para a mãe quanto para o recém-nato, pois, além de aumentar a mortalidade materna (cerca de 40% dos casos), o leite das mães não fornece o ferro necessário.

    A capacidade absortiva de ferro pelo organismo é limitada pela ação da hepcidina, um hormônio hepático envolvido na homeostase do ferro corpóreo. A expressão da hepcidina aumenta em resposta a altas concentrações de ferro tecidual ou circulante, assim como nas pessoas com inflamações ou infecções sistêmicas. Desta forma, há redução da absorção intestinal de ferro e retenção pelos macrófagos, limitando sua disponibilidade para a eritropoiese.

    Doses frequentes ou elevadas de ferro mantêm a hepcidina elevada e o afluxo celular do metal diminuído, tornando o tratamento conservador demorado e com mais efeitos adversos pelo seu acúmulo no trato gastrointestinal (TGI), o principal motivo da baixa adesão ao tratamento. Em contrapartida, a produção da hepcidina é inibida pela expansão da eritropoiese, pela deficiência de ferro e pela hipóxia tecidual. O ferro é o elemento essencial na maioria dos processos fisiológicos e funções metabólicas do organismo humano.

    Assim, a deficiência de ferro resulta do desequilíbrio entre a absorção e as perdas de ferro, devido a fatores fisiológicos, nutricionais e patológicos.

    Fatores fisiológicos:

    • Gestação, parto e puerpério;
    • Em lactentes e crianças pequenas, devido à velocidade de crescimento;
    • Na adolescência, as meninas são mais susceptíveis devido à perda menstrual.

    Fatores nutricionais:

    • Dieta com baixa disponibilidade de ferro heme;
    • Uso abusivo de bebidas alcoólicas;
    • Idosos com dieta inadequada ou com dificuldade de mastigação;
    • Uso contínuo de antiácidos e inibidores de bomba de prótons;
    • Ingesta de fitatos, fosfatos, oxalatos e tanino com alimentos ricos em ferro;
    • Dieta láctea baseada em leite de vaca (baixa biodisponibilidade de ferro).

    Fatores patológicos:

    • Sangramentos em geral (menorragia, TGI, urinário, respiratório);
    • Parasitoses;
    • Uso de AAS, AINEs ou anticoagulantes;
    • Doação de sangue;
    • Cirurgias gastrointestinais (gastrectomia, gastroplastia, bariátrica);
    • Hemólise crônica;
    • Insuficiência renal crônica, mesmo com suplementação.
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