Manual de Atenção à Saúde do Adolescente
▪ SÃO PAULO (Cidade). Secretaria da Saúde. Manual de Atenção à Saúde do Adolescente. São Paulo: Secretaria da Saúde, 2006. 328 p.
Introdução
Lígia de Fátima Nóbrega Reato, Lucília Nunes da Silva, Fernanda Fernandes Ranña
A adolescência pode ser definida de diferentes formas. Trata-se de uma etapa de crescimento e desenvolvimento do ser humano, marcada por grandes transformações físicas, psíquicas e sociais. Mais precisamente, entende-se adolescência como o período de desenvolvimento situado entre a infância e a idade adulta, delimitado cronologicamente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a faixa dos 10 aos 19 anos de idade, esta também adotada no Brasil, pelo Ministério da Saúde.
A OMS considera, ainda, como juventude o período que se estende dos 15 aos 24 anos, identificando adolescentes jovens (de 15 a 19 anos) e adultos jovens (de 20 a 24 anos).
A lei brasileira, através do Estatuto da Criança e do Adolescente, considera adolescente o indivíduo de 12 a 18 anos.
O Programa de Atenção à Saúde do Adolescente (PRO-ADOLESC) da Secretaria Municipal da Saúde da cidade de São Paulo adota a definição cronológica da OMS e, por isso, considera adolescente o indivíduo de 10 a 19 anos de idade.
♦ Adolescência e Puberdade
Para que se possa compreender melhor as peculiaridades desta faixa etária, é importante ressaltar a diferença entre os conceitos de puberdade e adolescência.
A puberdade engloba o conjunto de modificações biológicas que transformam o corpo infantil em adulto, constituindo-se em um dos elementos da adolescência. A puberdade é constituída pelos seguintes componentes: crescimento físico (aceleração, desaceleração, até a parada do crescimento – 2º estirão), maturação sexual, desenvolvimento dos órgãos reprodutores e aparecimento dos caracteres sexuais secundários, mudanças na composição corporal, desenvolvimento dos aparelhos respiratório, cardiovascular e outros. A puberdade é um parâmetro universal e ocorre de maneira semelhante em todos os indivíduos.
A adolescência abrange, além da puberdade, os componentes psicológicos e sociais característicos dessa fase da vida. Está sujeita, portanto, a influências sociais e culturais.
Quanto ao desenvolvimento, sabe-se que a adolescência é um período difícil, onde o indivíduo se prepara para o exercício pleno de sua autonomia. Basta lembrar as muitas expectativas que são depositadas nessa etapa (corpo adulto, capacidade reprodutiva, identidade sexual, responsabilidade, independência, maturidade emocional, escolha profissional), que fica fácil compreender porque a adolescência é uma fase de tantos conflitos.
♦ Os Adolescentes na Cidade de São Paulo
Em 2006, a faixa etária de 10 a 19 anos corresponde a aproximadamente 16% da população total da cidade de São Paulo, o que equivale a 1.657.723 adolescentes. As regiões Leste e Sul concentram as maiores proporções desses jovens na cidade, possuindo, respectivamente, 17,39% e 16,92%. Na região Norte, a população de adolescentes compreende 15,35% da população total, seguida da região Sudeste, com 13,87% e da Centro-Oeste, com 11,9%.
Com esses valores é possível perceber que, além de ter importância qualitativa, por se tratar de uma fase complexa e repleta de conflitos, a adolescência possui importância quantitativa, por representar 16% da população do município. Desta forma, é imprescindível que se voltem atenções especiais para esse público, que representa o futuro de São Paulo.
♦ Vulnerabilidade dos Adolescentes
A vulnerabilidade desta faixa etária é outra questão que faz com que ela necessite de um cuidado ainda mais amplo e sensível. Essa maior vulnerabilidade aos agravos, determinada pelo processo de crescimento e desenvolvimento, pelas características psicológicas peculiares dessa fase da vida e pelo contexto social em que está inserido, coloca o adolescente na condição de maior suscetibilidade às mais diferentes situações de risco, como gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis (DST), acidentes, diversos tipos de violência, maus tratos, uso de drogas, evasão escolar, etc.
É reconhecido que a gravidez durante a adolescência, especialmente naquelas muito jovens, eleva os riscos de mortalidade materna, de prematuridade e de baixo peso ao nascer. Além dessas consequências físicas para a jovem e para o bebê, existem as consequências psicossociais, entre as quais a evasão escolar, redução das oportunidades de inserção no mercado de trabalho, gerando, por vezes, insatisfação pessoal e manutenção do ciclo de pobreza.
Em 2005, na cidade de São Paulo, o número total de partos foi de 171.416, dos quais 25.257 (15%) foram de mães adolescentes. A região Leste concentra o maior número de adolescentes grávidas (17,6% das gestantes), seguida das regiões Sul, 15,8%; da Norte, 15%; Sudeste, 12,4% e da Centro-Oeste, com 10,3% do total de gestantes da região.
Em todo o município de São Paulo, essas porcentagens têm se mantido praticamente estáveis desde 2002, variando cerca de 1 a 2% para mais ou para menos, o que mostra que o número de adolescentes grávidas não vem aumentando significativamente nos últimos anos; entretanto, também não tem diminuído. Desta forma, é de extrema importância que o poder público desenvolva ações que tenham como objetivo a prevenção da gravidez entre adolescentes, o que ocasionaria a redução significativa desses dados estatísticos.
Todos estes aspectos que caracterizam a adolescência, somados à importância demográfica que esse grupo representa na cidade de São Paulo, justificam a necessidade de atenção integral à sua saúde, levando em consideração as peculiaridades dessa faixa etária.
Este Manual tem como objetivo fornecer orientações e subsídios técnicos aos profissionais da rede de saúde, a fim de que sejam promovidas ações efetivas e resolutivas, visando à atenção integral à saúde dos adolescentes.
Bibliografia Consultada
▪ Narvaez RO. Salud Integral del Adolescente. Su abordaje interdisciplinario. Adolescencia Latino Americana 1997; 1:5-10.
▪ Friedman HL, Ferguson JB. Enfoques de la OMS sobre la Salud de los Adolescentes. In: Maddaleno M, Munist MM, Serrano CV, Silber TJ, Ojeda ENS, Yunes J. La Salud del Adolescente y del Joven. OPAS 552, 1995.
▪ Neinstein LS, Kaufman FR. Normal Physical Growth and Development. In: Neinstein LS. Adolescent Health Care. A Practical Guide. 3ª ed., 1996.
▪ Brasil. SEADE/CEInfo/SMS-SP. Dados estatísticos da cidade de São Paulo. Disponível em: www.portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/saude/tabnet/0002
• Dr. Marcelo Meirelles
– Médico Pediatra
– Médico Hebiatra (Especialista em Medicina do Adolescente)
– Psiquiatria na Infância e Adolescência