1. Introdução
No mundo, estima-se que 2,5 milhões de recém-nascidos (RNs) morrem anualmente, cerca 7.000 mortes ao dia, responsáveis por aproximadamente 47% dos óbitos de crianças abaixo de 5 anos de idade. A asfixia perinatal contribui com 30-35% das mortes neonatais, o que representa, em nível global, ao redor de 1 milhão de óbitos por ano.
No Brasil, a asfixia perinatal é a terceira causa básica de óbito de crianças abaixo de 5 anos, atrás apenas da prematuridade e anomalias congênitas. Em 2019, dentre os 18.402 óbitos neonatais precoces no país, em 3.613 (20%) a causa do óbito esteve associada à asfixia perinatal, hipóxia ao nascer e/ou à síndrome de aspiração meconial. Considerando apenas aqueles com peso de nascimento ≥ 2.500g, essas causas contribuíram para a morte de 4 RNs a cada dia no país.
As intervenções para reduzir a morbidade e a mortalidade neonatal associadas à asfixia perinatal incluem:
1) Medidas de prevenção primária: com melhora da saúde materna, reconhecimento de situações de risco no pré-natal, disponibilização de recursos humanos capacitados para atender ao parto e reconhecer complicações obstétricas, entre outras.
2) Tratamento do evento: reanimação neonatal imediata.
3) Tratamento das complicações do processo asfíxico: reconhecimento da asfixia, com terapia dirigida à insuficiência de múltiplos órgãos.
Para avançar na agenda global relativa à saúde neonatal, os países precisam assegurar que a vida de cada RN, individualmente, é prioritária, implementando cuidados em toda a cadeia acima relacionada e programas de educação de larga escala dirigidos a tais cuidados.
Nesse contexto, o progresso na sobrevida neonatal deve incluir a qualificação do atendimento ao recém-nascido e da força de trabalho responsável por tal atendimento. A reanimação, considerada de forma ampla como o apoio especializado para uma transição bem-sucedida ao nascer, tem sido um foco maior dentre os esforços para diminuir a mortalidade neonatal precoce.
Em RNs a termo, estima-se que o treinamento em reanimação possa reduzir em até 30% a mortalidade neonatal relacionada a eventos intrapartos em países de média e baixa renda. Dentre os RNs, ao nascimento, cerca de:
▪ 2 em cada 10 não choram ou não respiram;
▪ 1 em cada 10 necessita de ventilação com pressão positiva (VPP);
▪ 1-2 em cada 100 necessitam de intubação traqueal;
▪ 1-3 em cada 1.000 necessitam de reanimação avançada, ou seja, ventilação acompanhada de massagem cardíaca e/ou medicações, desde que a ventilação seja aplicada adequadamente;
▪ no Brasil, a cada ano, ao redor de 500.000 crianças necessitam de ajuda para iniciar e manter a respiração ao nascer.
A necessidade de procedimentos de reanimação é maior quanto menor a idade gestacional e/ou peso ao nascer. A cesariana, mesmo no RN a termo sem fatores de risco antenatais para asfixia, também eleva a chance de que a ventilação ao nascer seja necessária.
As práticas da reanimação em sala de parto baseiam-se nos documentos publicados pelo International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR) Neonatal Life Support Task Force. Neonatologistas de todos os continentes realizam revisões sistemáticas de temas relacionados à reanimação ao nascimento, com a abordagem metodológica criteriosa e claramente descrita nos consensos em ciência e recomendações de tratamento. Conforme a orientação do ILCOR, as recomendações publicadas servem de guia para a construção das diretrizes adaptadas à realidade de cada nação ou grupo de nações.
O Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria (PRN-SBP) disponibiliza as Diretrizes da Reanimação Neonatal, voltadas à assistência ao recém-nascido de gestação superior ou igual a 34 semanas e para os prematuros (gestação menor que 34 semanas).
Com base nessa discussão, foram formuladas as Diretrizes em Reanimação Neonatal para o Ciclo de 2022 a 2026, a serem aplicadas tanto no ensino quanto na assistência.
Atualizadas a cada cinco anos, as Diretrizes têm como base as recomendações do ILCOR, e servem de guia para a construção das diretrizes adaptadas para a realidade de cada país ou grupo de países. Seguindo essas orientações, o Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria discutiu as recomendações do ILCOR publicadas em 2019, 2020 e 2021 com neonatologistas do Grupo Executivo e todos os 54 coordenadores do PRN-SBP das 27 UF do país, além dos membros do Departamento de Neonatologia da SBP, no final de 2021.