2. Briefing
O briefing consiste em uma rápida reunião entre os membros da equipe para planejar o atendimento neonatal, antes do nascimento. A divisão de tarefas e responsabilidades de cada membro da equipe, com a definição de quem será o líder antes do nascimento, permite a atuação coordenada e a comunicação efetiva em alça fechada, o que confere um atendimento com qualidade e segurança ao RN.
2.1. Equipe de Assistência
É primordial contar com profissionais de saúde treinados para recepcionar o RN, ajudar na transição ao ambiente extrauterino e, sempre que necessário, realizar a reanimação neonatal.
Considerando-se a frequência com que RNs precisam de algum procedimento de reanimação e a rapidez com que tais manobras devem ser iniciadas, é fundamental que pelo menos um profissional de saúde capaz de realizar os passos iniciais e a VPP por meio de máscara facial esteja presente em todo parto. A única responsabilidade desse profissional deve ser o atendimento ao RN.
Quando, na anamnese, identificam-se fatores de risco perinatais (Tabela 1), podem ser necessários 2-3 profissionais treinados e capacitados a reanimar o RN de maneira rápida e efetiva. Desse grupo de profissionais, pelo menos um médico apto a intubar e indicar massagem cardíaca e medicações precisa estar presente na sala de parto. Tal médico deve ser de preferência um pedia-tra. No caso de gemelares, deve-se dispor de material e equipe próprios para cada criança.
A primeira ação da equipe que irá cuidar do RN é realizar o briefing, que inclui anamnese materna, preparo do ambiente e do material para uso imediato na sala de parto e divisão das funções de cada mem-bro da equipe, deixando claro a quem caberá o papel de liderança dos procedimentos de reanimação.
Algumas vezes, um parto de baixo risco resulta no nascimento de um paciente que precisa de manobras de reanimação e, por isso, recomenda-se que esteja disponível uma equipe apta a realizar todos os procedimentos da reanimação neonatal em cada nascimento. A SBP recomenda a presença do pediatra em todo nascimento.
Vale lembrar que tem sido atribuída importância crescente ao trabalho em equipe e ao desempenho comportamental dos seus membros no cuidado ao RN que precisa de ajuda para fazer a transição cardiorrespiratória ao nascer.
A conversa prévia da equipe com a parturiente e seus familiares é essencial a fim de estabelecer um vínculo de respeito e confi-ança, facilitando a comunicação sobre as condições do bebê após o nascimento.
2.2. Anamnese
No briefing, a anamnese cuidadosa é fundamental para detectar a presença de condições perinatais associadas à possibilidade de o RN precisar de ajuda para fazer a transição respiratória e cardiocirculatória ao nascer (Tabela 1).
Tabela 1. Condições associadas à necessidade de reanimação ao nascer | ||
---|---|---|
Fatores Antenatais | Fatores Relacionados ao Parto | |
▪ Idade materna < 16 anos ou > 35 anos ▪ Idade gestacional < 39 semanas ou > 41 semanas ▪ Diabetes ▪ Gestação múltipla ▪ Síndromes hipertensivas ▪ Rotura prematura das membranas ▪ Doenças maternas ▪ Polidrâmnio ou oligoâmnio ▪ Infecção materna ▪ Diminuição da atividade fetal ▪ Aloimunização ou anemia fetal ▪ Sangramento no 2º ou no 3º trimestre ▪ Uso de medicações ▪ Discrepância de idade gestacional e peso ▪ Uso de drogas ilícitas ▪ Hidropisia fetal1 ▪ Óbito fetal ou neonatal anterior ▪ Malformação fetal ▪ Ausência de cuidado pré-natal |
▪ Padrão anormal de frequência cardíaca fetal ▪ Cesariana ▪ Anestesia geral ▪ Uso de fórcipe ou extração a vácuo ▪ Hipertonia uterina ▪ Apresentação não cefálica ▪ Líquido amniótico meconial ▪ Trabalho de parto prematuro ▪ Prolapso ou rotura de cordão ▪ Parto taquitócico2 ▪ Nó verdadeiro de cordão ▪ Corioamnionite ▪ Uso de opioides nas 4 horas anteriores ao parto ▪ Rotura de membranas > 18 horas ▪ Placenta prévia ▪ Descolamento prematuro da placenta ▪ Trabalho de parto > 24 horas ▪ Segundo estágio do parto > 2 horas3 ▪ Sangramento intraparto significante |
|
1 Hidropisia é a entidade clínica caracterizada pelo acúmulo anormal de líquido no espaço extravascular e em cavidades corporais fetais como o peritônio, pleura e pericárdio, poden-do ocasionar anasarca. O diagnóstico habitualmente é realizado durante o acompanhamento pré-natal pelo exame de ultrassonografia, que revela alterações como polidrâmnio, ascite, derrame pleural e/ou pericárdico e edema de partes moles fetais maior. Classicamente é categorizada em imune, quando há isoimunização Rh, ou não imune, quando outras entidades clínicas, que não a incompatibilidade de grupo sanguíneo, produzem hidropisia. 2 Parto taquitócito é aquele com período entre o começo da fase ativa e da expulsão fetal < 4h. Principal causa: uso iatrogênico de ocitocina, gerando taquissistolia. É fator de risco para hemorragia puerperal. 3 São quatro os períodos do trabalho de parto: dilatação; expulsão; dequitação; Greemberg ou 4°período. |
2.3. Material para Reanimação
Ainda no briefing, todo material necessário para a reanimação deve ser preparado, testado e estar disponível em local de fácil acesso, antes do nascimento, incluindo equipamentos e material para avaliação do paciente, manutenção da temperatura, aspiração de vias aéreas, ventilação e administração de medicações (Tabela 2).
Esse preparo inclui o cuidado com o ambiente e a verificação da temperatura de 23-25°C da sala de parto. Logo após o nascimento, a equipe deve ficar voltada exclusivamente aos cuidados do RN, sem perder tempo ou dispersar a atenção com a busca e/ou o ajuste do material. É preciso verificar de modo sistemático e padronizado todo material que pode ser necessário antes de cada nascimento (Tabela 3).
Para a recepção do RN, utilizar as precauções-padrão que compreendem a higienização correta das mãos e o uso de luvas, aventais, máscaras ou proteção facial para evitar o contato do profissional com materiais do paciente como sangue, líquidos corporais, secreções e excretas, pele não intacta e mucosas. No caso de assistência ao RN na sala de parto de mãe com Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) suspeita ou confirmada, as recomendações quanto ao uso de equipamentos de proteção individual encontram-se em documento específico do PRN-SBP.
Tabela 2. Material necessário para reanimação neonatal na sala de parto | ||
---|---|---|
Sala de parto e/ou de reanimação com temperatura ambiente de 23-25°C | Material para manutenção de temperatura | |
◯ mesa de reanimação com acesso por 3 lados ◯ fonte de oxigênio umidificado com fluxômetro e fonte de ar comprimido ◯ blender para mistura oxigênio/ar ◯ aspirador a vácuo com manômetro ◯ relógio de parede com ponteiro de segundos |
◯ fonte de calor radiante ◯ termômetro ambiente digital ◯ campo cirúrgico e compressas de algodão estéreis ◯ saco de polietileno de 30×50 cm para prematuro ◯ touca de lã ou algodão ◯ colchão térmico químico 25×40 cm para prematuro < 1.000 g ◯ termômetro clínico digital |
|
Material para avaliação | Material para aspiração | |
◯ estetoscópio neonatal ◯ oxímetro de pulso com sensor neonatal ◯ monitor cardíaco de 3 vias com eletrodos ◯ bandagem elástica para fixar sensor do oxímetro e os eletrodos |
◯ sondas: traqueais (n° 6 e 8) e gástricas curtas (n° 6 e 8) ◯ conexão de látex ou silicone para conectar sonda ao aspirador ◯ dispositivo para aspiração de mecônio ◯ seringas de 10 mL |
|
Material para ventilação | Material para intubação traqueal | |
◯ reanimador manual neonatal (balão auto inflável com volume ao redor de 240 mL, reservatório de O2 e válvula de escape com limite de 30-40 cmH2O e/ou manômetro) ◯ ventilador mecânico manual com peça T com circuitos próprios ◯ máscaras redondas com coxim para RN de termo, prematuro e prematuro extremo ◯ máscara laríngea para recém-nascido (n° 1) |
◯ laringoscópio infantil com lâmina reta (n° 00, 0 e 1) ◯ cânulas traqueais sem balonete, de diâmetro interno uniforme (n° 2,5, 3,0, 3,5 e 4,0 mm) ◯ material para fixação da cânula: fita adesiva e algodão com SF 0,9% ◯ pilhas e lâmpadas sobressalentes para laringoscópio ◯ detector colorimétrico de CO2 expirado |
|
Medicações | Material para cateterismo umbilical | |
◯ adrenalina diluída a 1 mg / 10 mL em seringa de 5,0 mL para administração única endotraqueal ◯ adrenalina diluída a 1 mg / 10 mL em seringa de 1,0 mL para administração endovenosa ◯ expansor de volume (SF 0,9%) em 2 seringas de 20 mL |
◯ campo fenestrado esterilizado, cadarço de algodão e gaze ◯ pinça tipo Kelly reta de 14 cm e cabo de bisturi com lâmina n° 21 ◯ porta agulha de 11 cm e fio agulhado mononylon 4.0 ◯ cateter umbilical 3,5F e 5F de PVC ou poliuretano de lúmen único ◯ torneira de 3 vias e seringa de 10 mL ◯ soro fisiológico 0,9% para preencher o cateter antes de sua inserção |
|
Outros | ||
◯ luvas e óculos de proteção individual para os profissionais de saúde ◯ gazes esterilizadas e álcool etílico/solução antisséptica ◯ cabo e lâmina de bisturi ◯ tesoura de ponta romba e clampeador de cordão umbilical ◯ agulhas para preparo da medicação |
Tabela 3. Check List do material necessário em cada mesa de reanimação neonatal |
---|
VERIFICAR O MATERIAL ANTES DE CADA NASCIMENTO |
◯ Mesa com acesso por 3 lados com fonte de calor radiante ◯ Fonte de oxigênio umidificado com fluxômetro e mangueira de látex (para o balão) ◯ Fonte de oxigênio com fluxômetro e espigão verde (para ventilador manual em T) ◯ Fonte de ar comprimido com mangueira amarela ◯ Aspirador a vácuo com manômetro e mangueira de látex ◯ Relógio de parede com ponteiro de segundos |
MANUTENÇÃO DA TEMPERATURA |
Temperatura da sala de parto _____ °C e da sala de reanimação _____ °C ◯ 1 campo cirúrgico e 1 pacote de compressas de algodão estéreis ◯ 1 saco de polietileno de 30×50 cm (reservar triângulo para touca plástica após corte) ◯ 1 touca de lã ou algodão ◯ 1 colchão térmico químico ◯ 1 termômetro digital clínico |
AVALIAÇÃO DO RN |
◯ 1 estetoscópio neonatal ◯ 1 oxímetro de pulso com sensor neonatal e bandagem elástica ◯ 1 monitor cardíaco de 3 vias com eletrodos e bandagem elástica |
ASPIRAÇÃO |
◯ 1 dispositivo transparente para aspiração de mecônio ◯ 1 sonda traqueal sem válvula de cada tamanho (n° 6 e 8) ◯ 2 seringas de 10 mL |
VENTILAÇÃO E OXIGENAÇÃO |
◯ Balão autoinflável com válvula de segurança a 40 cmH2O e reservatório de O2 ◯ Ventilador manual em T com circuito completo (mangueira e tubo corrugado com peça T) ◯ Blender para mistura oxigênio/ar ◯ 1 máscara redonda com coxim de cada tamanho (termo, prematuro e prematuro extremo) ◯ 1 máscara laríngea n° 1 |
INTUBAÇÃO TRAQUEAL |
◯ 1 laringoscópio infantil com lâminas retas de cada tamanho (n° 00, 0 e 1) ◯ 1 fio-guia para intubação ◯ Cânulas traqueais sem balonete, 2 de cada tamanho (n° 2,5, 3,0, 3,5 e 4,0 mm) ◯ 3 fitas adesivas para fixação da cânula preparadas para uso ◯ 2 pilhas AA e 1 lâmpada sobressalente |
MEDICAÇÕES |
◯ Adrenalina diluída a 1mg / 10mL em SF 0,9% – seringas identificadas 1mL (EV), 5 mL (ET) e 10mL ◯ 2 ampolas de adrenalina 1mg / mL; 5 flaconetes SF 0,9% de 10 mL; 1 frasco SF 0,9% de 250 mL ◯ 2 seringas de 1 mL, 5 mL, 10 mL e 20 mL; 5 agulhas ◯ 1 torneira de 3 vias ◯ Bandeja com material estéril para cateterismo umbilical e cateteres n° 3,5F e 5F |
OUTROS MATERIAIS |
◯ Tesoura, bisturi, clampeador de cordão umbilical, álcool etílico/solução antisséptica, gaze de algodão |
TRANSPORTE |
Temperatura da incubadora _____ °C ◯ Incubadora ligada na rede elétrica ◯ Luz acesa da bateria incubadora ◯ Ventilador em T com blender ◯ Oxímetro de pulso ligado na rede elétrica ◯ Luz acesa da bateria do oxímetro ◯ Torpedo O2 > 50 kgf/cm2 e fluxômetro ◯ Torpedo de ar comprimido > 50 kgf/cm2 |